sexta-feira, 20 de maio de 2011

Crônica Nerd #4: A Maior Batalha de Todos os Tempos - Parte 3/4


[Leia a Parte 2]

 "Agora vocês vão me contar por onde vocês andaram nestes seis anos?" perguntou o professor Eduardo "Snape" Pereira, quando chegaram ao seu esconderijo subterrâneo. Os garotos só foram salvos por ele porque, por acaso, ele tinha ido buscar mantimentos para seu esconderijo. Como os três começaram a falar ao mesmo tempo, ele os interrompeu: "Tudo bem, não precisa falar nada. Eu não me importo. Mas é bom vocês saberem que, antes de tudo acontecer, seus pais saíram como doidos atrás de vocês três".

 Um aperto passou pelo coração dos três, que engoliram em seco. Pablo havia soltado Ratini que, agora, se deliciava com um pedaço de uma fruta recém-adquirida pelo professor Eduardo.

 "Professor, será que o senhor pode nos contar o que foi esse 'tudo' que aconteceu?" pediu Marcele, preocupada.

 "Está de brincadeira, não é?" respondeu o professor, em meio a uma risada. Como nenhum dos três falou nada, ele continuou: "Muito bem, eu não esperava nada melhor de nenhum de vocês três mesmo. Mais tarde me darão explicações detalhadas de seus paradeiros. Por ora, vou deixa-los informados de tudo, de modo a não precisar mais salvar seus traseiros.

 "Tudo começou em dezembro de 2012. Vocês devem se lembrar daquela história de fim de mundo ridícula que estava se espalhando. Bom, por uma incrível coincidência, exatamente no mês da suposta extinção da vida, foi quando tudo começou. Não no dia, porém.

 "Vocês devem se lembrar, também, do desastre que ocorreu na usina nuclear de Fukushima, no Japão, em 2011, ano em que vocês sumiram, por sinal. Pois muito bem. Durante mais de um ano, acreditou-se que a situação tinha sido competentemente controlada e que a vida poderia voltar ao normal no Japão.  Acontece que, mesmo depois de tudo ter se estabilizado, as usinas continuaram a vazar material radioativo na atmosfera. Quantidades pequenas, imperceptíveis, mas ainda assim fatais.

 "Então, metade da população japonesa acabou sendo infectada nuclearmente, mesmo sem saber. A radiação química não apresentava sintoma nenhum, e passava de pessoa para pessoa mais fácil do que uma gripe. Desnecessário dizer que, aos poucos, o mundo inteiro já estava infectado.

 "E foi só no final de 2012 que as primeiras mutações genéticas começaram a acontecer. Milhares de pessoas corriam aos médicos reclamando de dores terríveis que começavam na região do baço e se alastravam por todo o corpo, tornando o simples ato de respirar quase insuportável.

 "E, quando parecia que nada poderia piorar, as pessoas infectadas começaram a sofrer mutações horríveis. Primeiro, começaram a atacar umas às outras com mordidas e pontapés. Depois, começaram a apresentar sinais de hanseníase avançada, uma lepra dos tempos antigos, quando os corpos das pessoas doentes praticamente se decompunham.

 "Obviamente, algumas pessoas se demonstraram imunes aos efeitos da infecção. Era impossível não ter sido infectado, mas era óbvio que os sintomas não se manifestavam como nas outras pessoas. A população norteamericana foi a que se demonstrou mais resistente à infecção, com menos da metade dos habitantes tendo se transformado, e começou a correr contra o relógio atrás de uma cura. Foram eles que descobriram que tudo começou no Japão, e foram eles que, em 2013, descobriram a cura.

 "O problema era que eles iam precisar de todo o apoio que conseguissem obter para a ministração da cura pelo mundo, já que recursos para sua fabricação em escala mundial eles tinham. E aconteceu que, quando Barack Obama foi, finalmente, fazer o pronunciamento oficial, em julho de 2013, um dos infectados saiu do nada e o atacou em rede nacional. A situação ficou feia e as autoridades começaram a se focar apenas na população americana, sem se preocupar se haviam vidas se perdendo do lado de fora dos Estados Unidos. Milhões de pessoas invadiam os Estados Unidos pelas fronteiras, atrás da cura para seus familiares. A maior parte destas pessoas morreu na tentativa.

 "No Brasil, a situação também não era tão crítica. Quase a metade da população se demonstrou resistente aos efeitos da infecção. O problema é que, sem a cura, não havia nada que pudesse ser feito. A presidente Dilma, como medida extrema, ordenou ao exército que atirasse em todos os que apresentassem qualquer sinal de mutação. A população foi sendo dizimada, mas acabou que o exército foi extinguido antes da doença. O Palácio do Planalto foi apedrejado, mas ninguém sabe o que aconteceu com a presidenta.

 "Durante muito tempo, fiquei escondido, aqui neste mesmo lugar, com sua mãe, Túlio. Seu pai teve uma emergência no exterior pouco tempo antes de tudo acontecer, e ela não fazia ideia do que acontecera com ele. Apesar disso, ela tentava, sempre que possível, voltar em casa, na esperança de que você ou ele tivessem voltado. Além disso, ainda tinha bastante comida lá que nós usamos durante um bom tempo. Foi só há algum tempo, quando os infectados começaram a tomar as ruas de São Paulo, que ela decidiu que era hora de partir atrás de vocês. Eu tentei insistir que ela ficasse, mas ela não me ouviu. Ainda tentei dar cobertura a ela enquanto ela ia embora, sem rumo, mas o máximo que eu consegui foi chamar a atenção de uma manada de infectados que tentavam alcança-la na praia de Santos. Sem saber para onde ela tinha ido, voltei ao meu esconderijo. Na garagem de sua casa, ainda encontrei alguns infectados revirando as gaiolas dos ratos que você guarda lá. Desde esse dia eu não faço a barba.

 "Creio que isso é tudo, garotos. Agora é a hora de vocês me contarem por onde estiveram. Mas fiquem atentos a qualquer som estranho, porque nós estamos no meio de uma batalha, e, desta vez, ela é por nossas vidas".

[Leia a Parte 4]

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