sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Crônica Nerd #9: Noite Sangrenta - Parte 3/4


[Leia a Parte 2]


 Quando acordei, senti uma dor horrível no topo da cabeça e, instintivamente, levei minha mão direita até o local. Ou pelo menos eu teria feito isso, se eu não estivesse completamente amarrado, preso a uma espécie de poste de ferro. 

 “Chefe”, ouvi uma voz masculina na escuridão dizer, “a Bela Adormecida acordou”.

 Imaginei que a ‘Bela Adormecida’ deveria ser eu, mas desejei não saber quem era o ‘Chefe’. Em toda a minha carreira de caçador só encontrei um vampiro líder uma vez. Os líderes eram os vampiros mais fortes e ágeis da cidade e, portanto, aqueles que organizavam a bagunça, mantendo a ordem para que os humanos não viessem a descobri-los.

 “Enfim”, disse uma voz muito grave. “Por um instante pensei que Bruce tivesse batido forte demais e que o caçador teria que virar lanche”.

 Uma coisa eu aprendi: os vampiros gostam de mudar seus nomes de vez em quando, de modo que os humanos não reparassem que seus amigos e conhecidos não estão envelhecendo. Geralmente, eles escolhiam algum nome engraçadinho da literatura ou ficção.

 “Senhor Romero”, disse a voz grave do líder, e pude ver uma figura alta se movendo na escuridão, “esperamos muito por esse dia. Quando soubemos que os caçadores estavam vindo, sabíamos que não deixariam o senhor de fora. Se quisessem nos enfrentar, teriam de trazer os melhores, e você foi responsável pelas mortes de muitos dos nossos companheiros”.

 Entenda: os vampiros não vivem todos no mesmo lugar, mas o quartel general é o refúgio para todos aqueles que precisam, da mesma forma que as igrejas afiliadas sempre acolhem um caçador necessitado. A Inquisição era como uma grande família de fé, então eu imaginava que os vampiros quisessem passar a mesma impressão para aqueles que se tornassem seus semelhantes. Para mim, isso era uma grande palhaçada.

 “Mas que grata surpresa tivemos”, continuou o líder, “quando descobrimos que os caçadores haviam, afinal, falhado, e desistido de vir aqui. Aparentemente, o senhor não ficou sabendo disso e veio assim mesmo. Quando o vimos se infiltrando sozinho, por pouco nossos corações não voltaram a bater”.

 Ouvi uma risada que por pouco não fez o meu coração parar de bater. Deviam ter mais vampiros ali do que eu jamais vi reunidos em vida. Megalópolis era uma cidade grande e eu entendia que, quanto maiores as cidades, mais vampiros haviam nela. O máximo que eu já vi em um quartel general de uma vez só foram uns dez. Ali deviam haver, pelo menos, vinte.

 “Veja, senhor Romero, nosso plano inicial era simplesmente matar a você e a seus amiguinhos”, continuou o líder. “Um banquete é sempre bem-vindo, e quando a comida simplesmente entra na sua casa por conta própria, você não pode recusá-la, não é mesmo? Seria como dispensar o entregador de pizza que pretende pagar para que você coma a pizza”.

 Mais uma risada se sobreveio, mas alguma coisa fina foi levantada e os malditos pararam de rir. Quando a coisa abaixou, entendi que devia ser o braço do líder.

 “Mas quando o vimos sozinho, percebemos que uma luta não seria necessária. Acordamos bem cedo hoje, prontos para lutar contra os caçadores que viriam às quinze para as seis, mas apenas o senhor veio, então decidimos adicioná-lo à nossa coleção. Uma mudança de time será muito bem vinda quando você pensa na opção, não é mesmo, senhor Romero?”

 Meu coração acelerou muito quando entendi o que ele estava pretendendo: me transformaria em vampiro e me forçaria a trabalhar contra meus antigos companheiros. No entanto, ele disse o horário em que acreditava que seu quartel general seria atacado, e não era o horário que eu vira em meu e-mail. Isso só poderia significar: um de nós foi enganado, e eu estava torcendo que tivesse sido ele. Em meio às risadas que vieram depois da palavra final do líder, fiquei torcendo que alguma coisa acontecesse. Certamente algum caçador tinha se infiltrado, não?

 “Tem alguma última palavra antes de entrar para o nosso lado, senhor Romero?”, disse o líder, agora tão perto que eu conseguia vê-lo com clareza: um homem alto de pele muito pálida e cabelos ao estilo militar, com uma cicatriz horrível perto do olho.

 “Tenho”, disse eu. “Atrás de você”.

 O líder se levantou para verificar do que quer que eu estivesse falando, saindo de perto de mim, dando espaço o suficiente para que o tiro o acertasse na cabeça. Ensopado com seu sangue, puxei minha adaga do tornozelo, cortei as cordas e levantei, enquanto toda a equipe de caçadores de vampiros da cidade saía de seus esconderijos e começava a lutar, lâminas em punho, contra as criaturas da escuridão.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Regras para um blog melhor:

1) Não poste comentários ofensivos e nem que contenham palavrões ou qualquer tipo de conotação sexual;
2) Não será tolerado qualquer tipo de preconceito;
3) Não floode;
4) Não anuncie seu site aqui. Nós temos uma área de parceiros dedicada a você. Contate-nos pelo formulário de contato;
5) Seja educado e use o bom senso.