[Leia a Parte 1]
Quando contei para Elisa, minha amiga de infância que cursava engenharia na mesma faculdade que eu, sobre minha pretensão de, um dia, escrever um livro, durante um intervalo entre aulas, ela ficou, possivelmente, ainda mais empolgada que eu.
"Cara, isso ia ser demais!", exclamou ela. "Imagina só: você, um escritor! E eu, melhor amiga do escritor! Só cuidado pra fama não te subir à cabeça e você acabar esquecendo dos amigos, hein?"
"Que é isso, garota", tranquilizei-a. "Nem sei se um dia isso vai mesmo acontecer. Só disse que seria bem legal, e é uma coisa que eu quero. Mas acho que não levo o menor jeito para escrever livros".
Apesar de adorar lê-los e não conseguir sobreviver sem meus livros, eu sabia que não levava o menor jeito para a escrita. Ou pelo menos eu achava que tudo o que eu escrevia era um desastre completo.
"Não diga isso, Ricardo!", pediu Elisa. "Lembra-se de quanto você tinha aquele blog? Sua página era uma das mais visitadas da internet brasileira e não tinha quase nenhuma imagem".
Não nego: certa vez, decidi começar um projeto com um blog, no qual eu narrava minhas aventuras no mundo dos livros, o qual possuía um público fiel e assíduo. Na época, uma imagem valia não mais que mil palavras, mas sim um longo tempo de espera para os servidores discados, então eu só adicionava imagens quando achava realmente necessário. De qualquer maneira, um blog que fala sobre livros não precisa de muito mais do que palavras.
"Já sei o que nós vamos fazer: vamos reunir fontes", continuou Elisa. "Todo trabalho escrito precisa de fontes e ninguém melhor do que você para saber que, com livros, não é nada diferente".
"Espera, que história é essa de nós?", disse eu. "Elisa, fico muito grato que você esteja querendo me ajudar, mas eu não quero tomar o seu tempo com uma coisa que não vai pra frente".
"Chega de papo", disse ela. "A primeira coisa que você tem que fazer é decidir sobre o que você quer escrever. Então, poderemos começar nossa coleta. Tenho uma aula de cálculo agora, então nos vemos depois da faculdade. Enquanto isso você vai pensando".
A primeira coisa que eu tinha que fazer já estava feita há muito tempo. Desde que comecei a pensar nessa história de ser escritor, eu sabia sobre o que o livro falaria: contaria a história de um garoto que não gostava de livros, mas que, um dia, recebeu um de presente e, depois de muito relutar, decidiu lê-lo. Quando ele abriu a primeira página, percebeu que não estava mais em casa, mas em um mundo fantástico, com dragões e cavaleiros, alquimistas e feiticeiros. Quem diria que um garoto como este, que não queria de jeito nenhum começar o livro faria questão de ter uma biblioteca em casa e, um dia, pensaria até mesmo em tornar-se escritor...
[Leia a Parte 3]
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