[Leia a Parte 3]
"Por Deus, garota! Você nunca assistiu a um bom filme?" disse Wissen Chaft, que estivera olhando não mais para a rocha, mas para mim, com a boca cada vez mais aberta, enquanto eu contava tudo o que tinha visto no meu sonho. "Você acabou com todo o suspense. Não é assim que as coisas funcionam: você tem que liberar as informações em doses homeopáticas".
"Bom, mas acontece que nós não temos tempo para isso, senhor Wissen Chaft", disse eu. "As tropas de Nemico já devem estar a postos e estão fugindo aos nossos radares justamente por causa desta pessoa envolvida. Eu bem que tentei descobrir alguma pista no código que me levasse a esta pessoa, mas não consegui. Por isso o trouxe para o senhor ver".
Mostrei meu computador portátil para ele, e ele foi logo pegando-o da minha mão. Abri o código para ele visualizar e, depois de alguns segundos, ele pôs a mão no queixo, como que pensando.
"Então você quer dizer que, no seu sonho, era você a responsável por decifrar o código? Foi assim que você descobriu que eu era um programador?"
Repeti a história toda para ele, pulando apenas a parte em que descobríamos que era o capitão o grande traidor. Por algum motivo, não achava certo compartilhar esta informação até que eu estivesse certa de que estava certa. Confuso? Você não imagina o quanto.
"Bem, neste caso, tudo o que nós não precisamos é deste código. Mantenha-o em um lugar seguro e longe de qualquer outro programador. Agora, ligue seu portátil a este terminal", disse ele, apontando para um pequeno orifício na parede, semelhante a uma tomada.
Obedeci, e logo entendi que era possível acessar o controle da estação diretamente dali. Estive me perguntando se teríamos que tirar o capitão Dúijan da central para podermos agir.
Wissen Chaft começou a digitar códigos no software de comando da estação espacial. Por um momento, ele parou, e achei que ele tivesse se perdido, mas então apareceu uma nova janela na tela.
"Nem sempre é necessário dar comandos para as coisas acontecerem, minha jovem", disse Wissen Chaft. "O segredo da programação é saber quando não fazer nada".
Na tela era agora exibido um relatório dos radares da nave. De fato, havia uma série de exceções incluídas, de modo que as espaçonaves indicadas não fossem detectadas.
"Muito bem", disse Wissen Chaft, "Dowa, acho que está na hora de você sair daqui", e me contou exatamente o que eu deveria fazer em seguida.
Saí do laboratório de Wissen Chaft e corri para a central de segurança, onde ficava a "polícia" da estação espacial. Pouquíssimas foram as vezes em que eu vi alguém da segurança andando pelos corredores. Geralmente, eles ficam na sala deles, de olho nos monitores e nos radares, comandando as tropas espaciais a interceptar naves e criaturas estranhas. Acho que, da última vez em que aconteceu algo suspeito dentro da nave foi quando um dispositivo de armazenamento portátil desapareceu, junto com diversas informações confidenciais da central de controle. Dias depois, Wissen Chaft reclamou que, enquanto tomava banho, encontrou o bendito dispositivo enfiado em sua cabeleira.
Mas hoje ia ser diferente. O pessoal da segurança ia ser acionado por um motivo especial. Entrei na sala e contei tudo o que estava se passando. Naturalmente, eles disseram que eu era louca, e que coisas assim eram impossíveis de acontecer a não ser que o próprio comandante o fizesse, mas foi então que o sistema de alarme da nave endoidou e centenas, talvez milhares de naves de Nemico apareceram subitamente no radar. Wissen Chaft havia conseguido remover as exceções.
Dois policiais saíram correndo em direção à sala de controle, e eu saí atrás deles. Quando chegamos lá, no entanto, o capitão Dúijan parecia estar nos esperando.
"Capitão, detectamos centenas de naves de Nemico agora mesmo", disse um deles. "Alguma coisa estava bloqueando o radar. Aguardamos instruções".
"Não se preocupem com isso, meus caros", disse o capitão. "Tudo se resolverá em breve", e, puxando uma arma de raios, disparou duas vezes, uma contra cada policial.
[Leia a Parte 5]
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