sexta-feira, 24 de junho de 2011
Crônica Nerd #5: A Fronteira Inicial - Parte 4/4
[Leia a Parte 3]
Engatinhei pelos dutos de ventilação atrás de Wissen Chaft, me guiando pelos sons que ele fazia no metal. De vez em quando passávamos por uma abertura, por onde eu conseguia ver alguma parte iluminada da nave. O povo de Nemico estava por todas as partes.
De repente, Wissen Chaft parou, e eu colidi, bem, com a bunda dele. Comecei a falar que sentia muito e que ele devia avisar quando fosse parar assim, mas ele me mandou calar a boca, com um chiado.
"Veja, lá embaixo", sussurrou ele. "Eu vou me afastar para você poder ver".
Observei enquanto ele engatinhava para a frente, permitindo que eu visse a abertura no chão, ou melhor, no duto. Através de uma grade, eu conseguia ver vários soldados de uniforme preto reunidos, com um mais à frente. Este estava conversando com o Capitão Dúijan.
"Está vendo?" disse Wissen Chaft, aparecendo de volta na área iluminada não com o traseiro, mas com a face, o que me fez abrir a boca para perguntar como ele tinha feito aquilo, mas ele continuou. "Lá embaixo. Está vendo o que está acontecendo?"
Era óbvio que eu estava vendo, mas não estava entendendo a importância que Wissen Chaft estava atribuindo ao fato. Finalmente, percebi que os soldados de Nemico não estavam negociando a libertação de Zeme com ele, mas reportando o sucesso da operação.
"Eu não acredito", disse finalmente. "Então foi tudo planejado pelo comandante? Como ele pode..."
"Dowa", disse o cientista, "você sabe o que nós vamos fazer agora, não é?"
Olhei para ele com cara de quem não entendia nada. Não, a verdade é que eu devia estar olhando para ele com cara de idiota, mas eu gosto de amenizar um pouco os meus defeitos.
"Por Deus, garota", disse ele, "Você nunca viu um bom filme?"
Vou explicar o que aconteceu em seguida com detalhes. Um soldado de Nemico veio correndo em direção ao Capitão Dúijan, dizendo, desesperado, que os dois prisioneiros que estavam no dispensador de lixo tinham desaparecido, deixando apenas uma grade no chão. Então, uma segunda grade caiu no chão da sala naquele exato momento. Em seguida, foi o cientista maluco e eu que estávamos caindo, ele pousando com a destreza de um gato no solo, nocauteando um soldado e roubando sua arma, e eu com a destreza de um rinoceronte, nocauteando o comandante enquanto caía em cima dele. Wissen Chaft, então, apontou a arma recém-adquirida na direção da tropa de Nemico. Todos os soldados apontaram para ele, mas ele simplesmente pegou um pequeno objeto no bolso.
"Um fragmento de estrela, ainda que reduzido a uma pequena pedrinha, e ainda que apagado, tem o potencial para destruir uma nação inteira, se combinado com os elementos certos", disse ele. "No caso, meu caro povo de Nemico, o narômio, matéria prima de seus lasers, daria a esta pedrinha a capacidade de explodir não só esta espação espacial, mas também toda a frota espacial que estiver por perto".
O soldado que estava mais à frente, provavelmente seu comandante, levantou uma de suas mãos, fazendo um símbolo com ela. Todos os outros soldados, então, abaixaram suas armas.
"Dowa", disse Wissen Chaft. "Você é programadora, não é? Vá até aquele terminal de computadores e faça exatamente o que eu mandar".
Massageando minhas costelas, me levantei e fiz o que ele disse. Em seguida, ele começou a ditar um código super complexo, algo que eu jamais tinha visto, e de cabeça. Fui digitando atentamente tudo o que ele falava, ordenando e fragmentando o computador a cada vez que ele mandava. Até que, depois de uns cinco minutos de codificação, ele ordenou que eu executasse o comando.
Nesse momento, todos os computadores que ainda exibiam o aviso sobre o fim da trégua voltaram ao normal. Uma coisa na grande janela que havia nesta sala me chamou a atenção. A gigantesca frota de naves negras que cobriam o planeta Zeme, naquele momento, começaram a ir embora.
"O que você acha que está fazendo?" disse o comandante de Nemico, pegando um pequeno aparelho semelhante a um rádio. "Chamando todas as unidades: retornem à órbita de Zeme imediatamente. Repetindo: retornem à órbita de Zeme imediatamente", gritou ele para o aparelho.
Em seguida, ouvi diversas vozes diferentes, falando praticamente a mesma coisa, uma de cada vez. Todas elas diziam ao comandante que haviam perdido o controle das naves, e que não estavam controlando suas operações. O comandante, então, olhou para Wissen Chaft, estupefato. Eu conseguia imaginar o que ele estava pensando, porque eu também nunca tinha ouvido falar que Wissen Chaft era um programador, e ainda, que ele era um programador melhor do que eu.
"Dowa", disse o cientista. "Eu sinto muito, mas isso normalmente não acontece nos filmes".
Ele posicionou a pequena rocha estelar no chão, com cuidado, e apontou a arma de Nemico para ela. O povo de Zeme teve a oportunidade de assistir a dois grandes espetáculos naquele dia. O primeiro foi a estrela Suraja emitindo altas chamas, a cada vez que uma das naves de Nemico se aproximava o bastante para ser engolida pela gravidade do astro. A segunda foi uma gigantesca bola de fogo aparecendo no céu, no momento exato em que a estação espacial de Vieta explodia.
[Leia "O Caminho Final", a sequência desta crônica]
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