sexta-feira, 4 de março de 2011
Crônica Nerd #2: A Maior Invenção de Todos os Tempos - Parte 1/4
"Ae, Tux, qual é a resposta da 5?"
Túlio era um garoto como outro qualquer. Ou, na verdade, talvez ele não fosse como outro qualquer. Túlio era nerd, e considerado por todos em sua classe de Física o maior nerd da faculdade, o que lhe rendeu o apelido de "Tux". Quem lhe sussurrava agora era seu amigo Marcos. Túlio nunca entendera como Marcos conseguiu entrar na turma de Física, nem como conseguiu se manter junto com ele durante cinco períodos. A "resposta da 5", que Marcos lhe pedia enquanto torcia para não ser descoberto pelo professor Eduardo "Snape" Pereira era tão ridícula que ele não acreditava que Marcos estava disposto a se arriscar por ela. Na verdade, a questão 5 devia ser a pergunta mais fácil de toda a prova.
"É a letra e" sussurrou Túlio de volta, ao que Marcos, voltando a se concentrar em sua própria prova, sussurrou algo como "Sabia".
Túlio era um belo arquétipo de nerd, não só mental como fisicamente: seus cabelos castanhos cresceram um pouco além do que um assessor de moda denominaria "o limite entre a beleza e a feiúra", sua barba estava sempre por fazer, usava um par de óculos quase quadrados que lhe cobriam bem mais do que o necessário, e estava sempre usando combinações estranhas de roupas. Neste dia, por exemplo, ele estava com um blusão quadriculado aberto por cima de uma camiseta vermelha, um jeans tão gasto que fazia todos acharem (com razão) que era o único que ele usava há tempos, e um sapatênis muito semelhante a um sapato social (o que, aliás, não era nem de longe sua combinação mais estranha).
Túlio voltou a se concentrar em sua prova. Não estava difícil. Marcos é que tinha preguiça de pensar. Túlio também não entendia como Marcos tinha entrado para seu círculo de amigos, já que ele nem ao menos conseguia fazer o símbolo de "vida longa e próspera" com as mãos.
Faltava a resposta de apenas uma pergunta quando a sineta tocou, sobressaltando Túlio. Havia perdido bem mais tempo se preocupando com Marcos do que julgaria capaz. Agora, sua última questão ficaria sem resposta, a não ser que ele arriscasse um chute. Leu rapidamente a questão e já estava se preparando para colocar uma resposta, mesmo sem fazer todos aqueles cálculos que ele adorava quando uma mão muito branca puxou a prova de sua mesa.
"Sinto muito, sr. Silva. O tempo já acabou" dizia o professor Eduardo Pereira.
O professor Eduardo recebeu de seus alunos o apelido carinhoso de "Snape" e não era pra menos. Fisicamente, ele não lembrava quase nada o sinistro professor do universo de Harry Potter: ele era absurdamente branco, como se jamais tivesse tomado sol em toda a sua vida, tinha os cabelos curtos e totalmente negros sempre cuidadosamente penteados, usava uns óculos pequenos que, ao contrário dos de Túlio, cobriam apenas o necessário para que ele enxergasse o que estava em sua frente com precisão, e estava sempre vestido de maneira social. Neste dia, que estava fazendo um clima mais ameno, ele estava vestindo um paletó esportivo por cima de uma camisa branca de botão, uma calça jeans impecável e um par de sapatos marrons. Era sua maneira de agir com os alunos, sempre autoritário, que lhe rendeu o apelido.
Túlio guardou seu material na mochila, levantou-se de sua mesa e saiu. A aula de "Eletromagnetismo I" era a última da noite, então ele podia voltar para casa. Seus amigos e vizinhos Pablo e Marcele já o esperavam na porta. Ele tinha uma altura normal e os cabelos castanhos quase encaracolados e curtos, e era bem magro. Já ela era loira, tinha os cabelos suavemente ondulados, não era muito baixa, mas também não era nada alta, e também não era absurdamente magra, apenas o bastante para não ser considerada gorda. Os dois eram nerds de primeira.
"E aí, Tux? Muito fácil essa, né?" disse Marcele, quando ele se aproximou.
"Teria sido mais fácil se o Marcos não tivesse interrompido minha concentração" disse ele. E contou o que tinha ocorrido.
"Putz, cara. Que droga" dizia Pablo, enquanto eles se dirigiam aos portões da faculdade. "Mas o Snape não perdoa ninguém mesmo".
"Aí, já tá sabendo a novidade?" disse Marcele. "To com a coletânea completa de Death Note lá em casa. Eu tava pensando em chamar vocês pra dar uma passada lá agora pra gente ver".
Não parecia, mas Marcele era a otaku do grupo. Quem olhasse com atenção poderia perceber o chaveirinho do Tenchi Muyo em sua mochila, ou a pregadeira da Yui, de K-On, em seus cabelos, mas ela não dava muitos sinais de ser aficionada por animes e mangás. Isso, é claro, até que você começava a conversar com ela.
"Poxa, cara. Desculpa, mas hoje não vai dar." disse Túlio. "Estou com um projeto novo no trabalho que está me matando, e amanhã ainda é quarta-feira".
"Nunca vou entender seu trabalho" dizia Pablo. "Você diz que trabalha consertando máquinas, mas parece mais que você fica é inventando coisas".
Túlio apenas riu diante deste comentário. Não queria admitir, mas Pablo estava certo.
[Leia a Parte 2]
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