sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Crônica Nerd #7: Parte 4/4


[Leia a Parte 3]


 Quando Estevão Marques, presidente da Futuro Hoje sentou-se confortavelmente em sua mesa para tomar o café da manhã naquele dia e pegou despreocupadamente o jornal diário, quase engasgou com o que viu logo na primeira página. 

 ‘Reino de Terror’, dizia uma manchete em letras garrafais e nada amigáveis, com uma foto que mostrava, em preto e branco, dois homens, uma mulher e a Máquina. Mas não podia ser. Ele com certeza estava enxergando mal. Não era possível que sua preciosa Máquina tivesse sido roubada dos confins da base secreta de sua empresa e estivesse, agora, sendo utilizada para o mal.

 Mas o resumo da notícia deixava bem claro do que se tratava: ‘Munidos de uma espécie não catalogada de dróide, o trio não identificado acima tem espalhado o caos e o terror por toda a cidade, roubando, matando e destruindo indisciplinadamente. O dróide em questão é dotado de um raio laser mortífero que parece capaz de prejudicar a qualquer um que não sejam seus donos. Com isso, eles já... (Leia o resto da notícia na página 15)’.

 De semelhante maneira, quando Giordano Loureiro, líder da organização criminosa conhecida como Equipe Cosmos, sentou-se em sua poltrona para fumar um charuto enquanto acariciava seu gato e lia o jornal, e deu a primeira olhada no diário, deu uma dentada violenta no rolo de fumo que o fez cuspir e engasgar, levantar rapidamente, derrubando o pobre animal que pos-se a lamber-se no chão, enquanto o dono xingava procurando um copo d’àgua. Finalmente descobrira por que os três incompetentes que havia contratado se demoraram tanto na entrega do equipamento.

 Enquanto isso, escondidos em um quartel general improvisado, em uma caverna no meio do mesmo deserto onde encontrava-se a base secreta da empresa Futuro Hoje, estavam reunidos em volta de uma mesa o Matador, o Destruidor e a Ninja, rodeados por incontáveis sacos de dinheiro, jóias e riquezas de todas as espécies. Os três desatavam a discutir contra o fato de o fotógrafo ter, possivelmente, pego o pior ângulo de cada um deles, enquanto Jin-Run perguntava a quem estivesse disposto a responder como eles gostavam do café e qual seria a próxima missão.

Desde que roubaram a Máquina, os três vinham ficando cada vez mais maravilhados com tudo o que o pequeno robô era capaz de fazer: de moquecas de peixe e angus a baiana até raios laser mortíferos capazes de destruir qualquer coisa que não sejam seus donos. De fato, os três mercenários haviam acumulado tantas riquezas que a pequena caverna tornava-se ainda menor a cada vez que eles resolviam sair para roubar mais alguma coisa.  E, enquanto estavam todos juntos, eles só faziam duas coisas: roubar e discutir.

 O que aconteceu nos dias seguintes foi que eles continuaram roubando e não havia quem os parasse. A polícia foi atrás deles, mas foram imediatamente impedidos pelo raio laser de Jin-Run. Quando o exército entrou em ação, não sobrou sequer um cavalo. Até mesmo as mães dos três mercenários ligaram para eles, ralhando. Nesse dia, Jin-Run atirou seu raio laser contra os telefones dos mercenários.

 Pouco menos de um mês depois do início dos ataques, a polícia internacional acabou descobrindo o criador da Máquina, e Estêvão Marques foi levado a interrogatório.

 “Não se preocupem”, dizia Estêvão. “Os problemas logo acabarão”.

 A população revoltada cobrava soluções imediatas da Futuro Hoje, mas Estêvão simplesmente sugeriu que o exército fosse atrás dos mercenários dali a exatamente cinco dias, quando, então, completaria um mês desde o início dos ataques. Os três mercenários, sabendo do ocorrido, ligaram para a polícia para informar que, na data sugerida, estariam sentados no Parque dos Pombos, na região central da cidade, esperando o exército com seu brinquedinho.

 E assim fizeram: ficaram sentados na beirada de um chafariz que lá havia. Quando o exército apareceu, eles simplesmente ficaram parados enquanto Jin-Run destruía falange após falange de soldados. Quando o delegado local estava prestes a mandar que enforcassem Estêvão Marques aconteceu algo que ninguém esperava. Jin-Run, após um último raio mortífero interrompido precocemente, acendeu uma luz vermelha a um lado de sua cabeça, onde podia-se ler: ‘Sem Bateria’.


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