Crônica Nerd #3: A Maior Viagem de Todos os Tempos - Parte 1/5

[Leia "A Maior Invenção de Todos os Tempos", a prequência desta crônica]

 Túlio sentiu seu corpo ser puxado para fora do chão. Na verdade, ele sentiu seu corpo ser puxado para fora de qualquer espaço físico que jamais existiu. Na verdade, ele não sentiu absolutamente nada, a não ser uma forte convicção de que tudo o que ele sentiu até então no universo físico foi apenas um fruto de sua mente. Tudo o que existia era a sua mente, e seu corpo foi apenas uma ilusão criada por ela.

 Mas ele tinha olhos. Podia senti-los. Podia ver o mundo à sua volta. Ele abriu os olhos, reparando, só então, que os havia fechado com força o suficiente para controlar a mordida de um jacaré. Infelizmente, o que ele viu não fez o menor sentido para ele: algum tipo de vórtice multicolorido e completamente psicodélico que lhe fez sentir um forte enjoo. Só então ele lembrou por que tinha fechado os olhos.

 E, sem dúvida alguma, ele tinha um corpo. Podia sentir uma força de atração esmagadora puxando cada nervo, cada músculo, cada pequeno poro de sua pele, como se ele estivesse envolto em um campo gravitacional super forte que o atraía para todas as direções ao mesmo tempo.

 E então, do mesmo jeito que tudo começou, tudo parou. Ele sentiu novamente seus pés no chão. Na verdade, ele sentiu seus joelhos no chão também: havia caído. Abriu os olhos e viu um chão de pedra e terra. Só então ele descobriu que ainda tinha ouvidos, e só porque ouviu a voz de Pablo proferindo palavras muito sábias:

 "Onde estamos?" perguntou ele.

 Túlio olhou à sua volta. Estava em uma espécie de sala com paredes feitas de grandes tijolos, sem nenhum acabamento, iluminada por tochas presas nas paredes. Pablo estava se levantando, ao mesmo tempo que sacudia a poeira de sua calça. Marcele estava sentada no chão, apoiada nas duas mãos, olhando de Pablo para Túlio. Além dos dois amigos, Túlio pôde ver uma outra coisa que logo lhe chamou a atenção.

 "Minha invenção!" disse ele, correndo para verificar o estado de seu Raio Temporal. Ao que tudo indicava, estava em perfeitas condições. Não ousou liga-lo novamente, mesmo sabendo que tinha lhe colocado uma bateria que fornecia autonomia para utiliza-los mais umas duas ou três vezes.

 Marcele também se levantou, sacudindo a terra de sua calça e de sua jaquetinha vermelha. Túlio sabia que essa era uma das roupas preferidas da amiga, e ficou feliz com o fato de que suas próximas palavras não foram uma reclamação contra ele e seu Raio Temporal.

 "Bom, parece que vamos ter que descobrir onde estamos" disse ela, olhando ao redor da sala.

 Túlio também olhou à sua volta e logo descobriu uma boa pista para descobrir onde estavam: havia uma porta em uma das paredes da sala. É bem verdade que não era uma porta nem um pouco amigável, mas ainda era uma porta: ela era de madeira bem gasta e tinha uma espécie de janelinha com grades de ferro.

 Pelo visto, Marcele também tinha descoberto a porta, porque se aproximou dela e espiou pela janelinha.

 "Galera, acho que tem alguém lá fora" ela disse, aos que os dois garotos se aproximaram também.

 Do ponto onde Túlio estava, tudo o que ele conseguiu ver do lado de fora foi uma outra parede, semelhante às do interior da sala, e que parecia também ser iluminada por uma tocha, devido à iluminação fraca e bruxuleante.

 "É verdade. Estou ouvindo alguém" disse Pablo. "Parece algum tipo de discurso".

 Túlio se aproximou mais e também ouviu. De fato, havia uma voz masculina vinda de algum ponto do lado de fora da sala que falava quase ininterruptamente, jogando por terra qualquer teoria de que ele estivesse falando ao telefone.

 "Acho que só tem um jeito de descobrir onde estamos, não é mesmo?" disse Túlio. E, aproximando-se da porta, empurrou-a para ver se ela abria. E ela abriu.

[Leia a Parte 2]