[Leia a Parte 1]
Já era noite quando Paulo chegou em casa. Acendeu as luzes e olhou à sua volta. Não havia ninguém lá. Sentiu-se ao mesmo tempo feliz e idiota. Se não havia ninguém ali, isso significava que ele podia ter dado uma festa de arromba para comemorar sua reeleição?
Não. A ausência de todo e qualquer ser vivo ao seu redor só poderia ser um mau sinal. Eles raramente deixavam de aparecer. E, quando o faziam, era porque estavam muito irritados.
Então Paulo ouviu aquela voz e soube que não estava realmente sozinho.
"Aproveitando sua reeleição?" disse a voz masculina. "Deveria. Você sabe muito bem que está sendo um dos melhores presidentes da história do país".
Paulo virou-se para encarar seu perseguidor. Estava vestindo um terno, muito parecido com o que ele mesmo vestira o dia inteiro, à exceção de que era cinza. Seus cabelos curtos estavam bagunçados, o que não poderia ser um bom sinal, também. Ele estava sentado sobre a bancada da cozinha, da cozinha de Paulo, a cozinha que ele tanto se empenhava para manter limpa e longe de qualquer ameaça, agora sendo maculada por aquele homem.
"Que quer de mim hoje?" perguntou Paulo, agressivamente.
"Então já terminamos o momento de alegria? Pois muito bem. Só estou aqui para que você se lembre que ainda não te abandonamos. Você tem sido de grande valia, Paulo, e nossa mestra está muito feliz com isso. Prove que nossos esforços não foram uma total perda de tempo".
A vontade de Paulo era gritar, sair correndo e se jogar com fúria sobre aquele homem. Ao invés disso, ficou olhando enquanto ele se levantava e, calmamente, começava a andar em direção à porta dos fundos da imensa cozinha, como se nada tivesse acontecido, como se Paulo nem ao menos estivesse ali. Ele nem ao menos olhou para Paulo quando abriu a porta e saiu.
Isso só podia ser um mau sinal...
[Leia a Parte 3]
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